Visão Geral
O Estado brasileiro confronta-se, neste início de século, com extraordinários desafios. De um lado, é herdeiro de séculos de patrimonialismo, clientelismo e múltiplas formas de apropriação privada dos recursos públicos, materiais e imateriais, contribuindo para reproduzir e ampliar desigualdades na repartição da riqueza social e dos meios de exercício do poder. De outro lado, defronta-se com novos e intensos ataques a conquistas que marcaram o processo de transição democrática e da própria consolidação democrática subsequente, e que afirmaram um conjunto de direitos econômicos, sociais, culturais e participativos ainda não plenamente realizados.
A comunidade acadêmica tem acompanhado os embates e conflitos sociais e políticos que interpelam as administrações públicas e, de modo mais amplo, o próprio Estado brasileiro, em suas múltiplas facetas: formas de representação e exercício do poder político; administração da coisa pública; garantia de direitos e soberania do povo brasileiro. Embora nem sempre adequadamente organizada e divulgada, a produção acadêmica e científica pode contribuir em muito para o debate qualificado e democrático de problemas e caminhos possíveis.
Ao mesmo tempo, pela sua posição particular e seu engajamento na formação de profissionais e pesquisadores, a comunidade acadêmica e científica do Campo de Públicas pode propiciar um rico e dinâmico diálogo com as múltiplas e diversas formas de expressão e organização da sociedade civil, de quem, em última instância, deverão emergir opções e caminhos para a reinvenção da esfera pública e a construção e consolidação de um Estado brasileiro efetivamente republicano e democrático.
O campo de públicas é o campo multidisciplinar de formação acadêmica, científica e profissional de nível superior, assim como da pesquisa científica, comprometido com a consolidação democrática. Tem como objetivo formar profissionais, gerar
conhecimentos, desenvolver e difundir metodologias e técnicas, propor inovações sociais e promover processos que contribuam para o fortalecimento da esfera pública, a qualificação e melhoria da ação governamental e a intensificação e ampliação das
formas de participação da sociedade civil na condução dos assuntos públicos. Compreende tanto as ações de governo quanto as de outros agentes públicos não governamentais, sobretudo as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos.
Sua expressão no âmbito do ensino é configurada por um número crescente, notadamente a partir de 2005, de cursos de graduação, sobretudo de bacharelado, com as denominações de Administração Pública, Gestão de Políticas Públicas, Gestão Pública, Gestão Social e Políticas Públicas. No âmbito da pós-graduação também vem despontando grande número de novos cursos, com variadas denominações particulares. Conquistou reconhecimento e identidade institucional em 2014, como campo de formação acadêmica e profissional, com a edição de Diretrizes Curriculares Nacionais próprias.
A geração, a expansão, o aprofundamento e a disseminação de conhecimentos próprios do campo são condições para a sua consolidação e a sua materialização enquanto comunidade científica.
É nesse sentido que se organiza o I ENEPCEP, com o objetivo de reunir, discutir e divulgar a produção científica do Campo, bem como propiciar o intercâmbio entre professores, pesquisadores, estudantes, profissionais, organizações governamentais e não governamentais, trazendo como tema: Democracia e República: desafios governamentais e da esfera pública no séc. XXI
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