Este artigo tem como inspiração norteadora a Historiografia das Doenças que se desenvolveu nas últimas décadas do século XX, devido ao diálogo da História com outras disciplinas, tal como a Sociologia e a Antropologia, destinando-se a problematizar os olhares que circundam o adoecer, visto que a dimensão biológica da doença ultrapassa a esfera do natural, pois os sujeitos históricos procuram, ao longo do tempo e espaço, dar significado e resposta ao adoecer. As epidemias são exemplos ricos desta historicidade da doença. Entre 1855 e 1862, os surtos do cólera foram objetos de quantidade impressionante de publicações nos jornais da província do Ceará. Neste trabalho, analisamos como o jornal O Cearense, publicado em Fortaleza, divulgou informações sobre os surtos epidêmicos que imperavam em diversos pontos do Brasil, ameaçando atingir o território provincial. Os principais destaques em suas páginas no efervescer da epidemia davam conta dos sintomas degradantes da enfermidade: vômitos e evacuações intestinais incontroláveis, características que horrorizavam aos contemporâneos e que embasam grande parte das representações sobre tal doença. Em contrapartida, analisamos como O Cearense divulgou medidas tidas como preventivas e tratamentos contra a moléstia, ressaltando as inquietações do cotidiano epidêmico e as incertezas que marcavam o saber médico do período.