Administração Política e Políticas Públicas: novas possibilidades de (Re)Interpretação das Relações Sociais de Produção, Circulação e Distribuição

Reginaldo Souza Santos, Elizabeth Matos Ribeiro, Mônica Matos Ribeiro, Fabiane Louise Bitencourt Pinto

Resumo


Este texto propõe (re)discutir o conceito e métodos de conceber, implantar e avaliar políticas públicas (governamentais) com base na teoria da Administração Política, com vistas a contribuir para a construção de novas abordagens criticas que permitam sistematizar informações de análise de conjunturas em Administração – um convite à acadêmicos e profissionais que atuam na administração, a laçarem novos olhares sobre a concepção e os resultados das ações públicas governamentais, bem como sobre o processo dinâmico da criação e operacionalização dos atos e fatos administrativos. Ressalte-se que o significado dessa abordagem teórico-metodológica compreende integrar numa só proposta, o desenvolvimento administrativo, econômico, social e político, todos os setores e atividades da vida social, especificando a sua temporalidade e, sobretudo, explicitando que a finalidade última seja o bem-estar da sociedade brasileira.

Enquanto campo de conhecimento a Administração, por muito tempo, considerou que as Organizações constituíam o seu principal objeto de estudo. Neste ínterim, desconsiderava o contexto socio-histórico que influencia as empresas e a sociedade, como se qualquer estratégia garantisse o alcance das mesmas finalidades em diferentes Organizações. E, assim, muitos cursos de graduação e pós-graduação em Administração foram estruturados, a partir da segunda metade do século XX e seguem até a atualidade como se o campo da Administração se delimitasse apenas a executar ações técnicas, sem quaisquer reflexões sobre seus conteúdos ou compromissos político-ideológicos (TEIXEIRA, 2008).

 

Inconformados com essa percepção tradicional e tecnicista da Administração, um grupo de professores da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia resolveram aprofundar a discussão sobre a cientificidade desse campo. O primeiro passo nessa direção foi avançar na leitura crítica dos principais teóricos clássicos da Administração Científica, da Administração Pública e da Economia Política, buscando, assim, compreender como esses campos tratavam os atos e fatos administrativos (SANTOS e GOMES, 2008). Esse esforço acadêmico preliminar foi fundamental para que Santos, Ribeiro, entre outros estudiosos sobre o tema da Administração Política, concluíssem que, na perspectiva científica, a Administração era um campo de conhecimento indefinido, principalmente porque não existia um consenso entre os autores sobre o seu objeto científico. Muitos reforçam, até hoje, que o objeto da Administração é a Organização (FRANÇA 2009). No entanto, Santos (2009) ressalta que as organizações, enquanto manifestação das relações sociais de produção, circulação e distribuição concretas, também são objeto de estudo de diversas outras áreas do conhecimento (SANTOS, 2001).

E Nesse sentido, ao compreender o conceito de Gestão como a base que define a concepção (política/ideológica) e orienta as relações sociais de produção, circulação e distribuição que fundamentam um dado contexto social e/ou organizacional, reconhece-se como relevante o uso do conceito de Administração Política como base teórico-metodológica e crítica orientadora da discussão proposta neste artigo.

Ao definirem a Administração Política como campo teórico-prático responsável pelas formas de gestão das relações sociais de produção, realização e distribuição – incluindo desde o projeto individual até o mais elevado e abstrato deles, que é o Projeto de Nação ou o Processo Civilizatório da Humanidade – os autores defendem que esse novo campo científico integra as dimensões de reflexão e ação administrativas, responsáveis, pois, por definir e aplicar técnicas e métodos que contribuam para melhorar os resultados dos negócios. Pode-se deduzir, portanto, que trata-se de um campo que assume tanto a responsabilidade pela manutenção do status quo como também é capaz de (re)orientar as práticas sociais com vistas a possibilitar o alcance do bem-estar da humanidade/sociedade. O que implica afirmar que a Administração revela-se um campo científico que reflete em sua concepção (e ação), as contradições ideológicas que marcam uma dada sociedade e/ou organização. 

 

Como ressaltado por Santos e Gomes (2013:03),

 

(...) muitos dos erros e omissões das análises correntes ocorrem por conta do método utilizado (invariavelmente, baseado em estudos de caso) e da forma de abordagem (normalmente, trabalha-se mais sobre a concepção da intervenção e não sobre os resultados dela).  Por exemplo, apesar do Sistema Único de Saúde-SUS ter sido implantado há mais de duas décadas, os trabalhos acadêmicos são sempre circulares (...) Quase nunca os trabalhos de investigação em Administração respondem como esse sistema está operando e em que condições; enfim, sobre a real efetividade de uma intervenção dessa natureza.

 

Afim de evidenciar que os erros e vícios metodológicos contidos nas análises recortadas da realidade têm levado acadêmicos e gestores públicos a um juízo parcial e a generalizações falseadas sobre a validade do conhecimento acerca da Administração Política e da Administração Pública, afirmamos ser imprescindível produzir estudos que levem a uma compreensão mais totalizante das relações sociais de produção, circulação e distribuição, especialmente as ações lideradas pelo Estado, através de políticas públicas. Nessa direção, a proposta teórico-metodológica da Administração Política se afasta da metodologia de estudos de caso e se aproxima de uma análise mais crítica e contextualizada da realidade social e organizacional, baseada em dados censitários, buscando, dessa forma, avançar em direção a uma compreensão mais ampla do funcionamento e dos resultados das ações do Estado e das relações deste com a sociedade.

 

Referencias

 

SANTOS, R. S. Notas metodológicas para a concepção de uma nova política social para o Brasil. RAP, v. 36, n. 6, p. 933-957, nov./dez. 2002.

____. (Org.). A Administração Política como Campo do Conhecimento. Salvador/São Paulo: Hucitec, 2009.

____ e RIBEIRO, Elizabeth Matos. A Administração Política Brasileira. RAP, Rio  de Janeiro, 27 (4): 102-35, out/dez. 1993

____ e RIBEIRO, Elizabeth Matos. Reestruturação Produtiva do Estado Brasileiro na Perspectiva do Projeto Neoliberal. RAP, v. 38, n. 1, p. 7-32, jan./fev. 2004.

____, _____ e CHAGAS, Thiago. Bases Teóricas Metodológica da Administração Política. RAP Rio de Janeiro 38(1):7-32, Jan./Fev. 2004.

_____e _____. Empiria e Construção de novos Parâmetros Teórico-metodológicos para Avaliação da Administração Política Brasileira: Uma análise aplicada à realidade do município de Itabuna-BA. Projeto de Pesquisa. Salvador, 2013 (mimeo).

TEIXEIRA, E. C. Movimentos sociais urbanos em Salvador: um mapeamento. In: LUZ, Ana Maria Carvalho (Org.).  Quem faz Salvador? Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2002.

 


Apresentação
Última alteração
15/09/2015