Terceirização e relações interpessoais: um estudo em uma universidade federal

Nayara Ellen Juventino, Adílio Renê Almeida Miranda

Resumo


A terceirização tem avançado cada vez mais no âmbito da gestão pública, trazendo uma nova estrutura no processo organizacional, influenciou, também, nas transformações nas relações de trabalho, visto que é um novo corpo dentro do ambiente organizacional, ou seja, não se tratava mais da estrutura hierárquica e sistematizada, tratava-se agora de outras relações dentro de um mesmo ambiente, mas com cargos diferenciados. Assim, as mudanças na administração pública brasileira acarretaram algumas reformas, e, no caso da terceirização, pode-se dizer que ganhou mais ênfase no contexto da reforma gerencial, introduzida pelo governo de Fernando Henrique Cardoso em 1995, com o intuito de trazer práticas do setor privado para o setor público a fim de enfrentar a crise fiscal do país. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi conhecer, no âmbito do processo de terceirização, as relações interpessoais desenvolvidas entre funcionários terceirizados e efetivos no campus de uma universidade federal no sul de Minas Gerais. Para isso, utilizou-se a pesquisa qualitativa-descritiva que envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas com o amparo de um roteiro de entrevistas, a análise dos dados foi feita através da análise de conteúdo, onde foram entrevistados oito funcionários, sendo três funcionários efetivos que trabalham diretamente com os terceirizados e cinco funcionários terceirizados sendo um auxiliar de serviços gerais, um auxiliar de limpeza, dois técnicos administrativos e um do serviço de vigilância. A análise dos relatos permitiu observar como o processo de terceirização influencia no ambiente da instituição. No que tange à comunicação na instituição observou-se que em alguns casos ocorre a chamada dualidade de comando, onde os funcionários terceirizados não sabem a quem recorrer de imediato, o que pode ser um fator de conflito dentro dessa instituição. Assim, os relatos de conflitos apontam para a ocorrência entre os próprios terceirizados, mas é possível verificar que também ocorrem com os funcionários efetivos. Alguns conflitos são causados por falta de comunicação entre as partes, pela falta de integração dentro e fora do ambiente de trabalho, pela influencia exercida dos efetivos perante os terceirizados e por traços das relações de poder. Nesse caso, os terceirizados se queixam da diferença de tratamento para os outros indivíduos da instituição, o que seria mais uma causa do surgimento de conflitos, pois os mesmos se sentem distantes do coletivo da instituição. E através disso é que se criam as chamadas castas dentro das organizações, pois são através dessa segregação que se manifesta algumas características das relações de poder. Os conflitos na instituição partem mais de uma questão de integração entre os funcionários, do que propriamente com os serviços prestados por eles na instituição. Com a criação de grupos na instituição, as divergências se tornam mais frequentes, pois há colisão de ideias entre esses indivíduos. Quanto ao relacionamento dos terceirizados com a instituição é possível afirmar que há certa identificação com a mesma, o que poderia criar a ilusão de que são funcionários da própria instituição e não de uma empresa que presta serviço para essa instituição. Essa confusão em relação ao pertencimento à instituição traz para os indivíduos terceirizados incerteza sobre a quem recorrer em caso de problemas. Outra questão que pode ser observada em relação aos terceirizados se trata da utilização de uniformes, pois configuraria uma separação entre as partes, visto que é um elemento simbólico de diferenciação entre efetivos e terceirizados, pois os funcionários efetivos não usam uniforme na instituição. Sendo assim, visualmente, separaria as duas esferas de pertencimento a que os funcionários são submetidos. Observou-se ainda que os terceirizados se sentem parte da instituição, porém não reconhecem os efetivos como seus colegas de trabalho, sendo possível observar que o terceirizado se vê numa esfera inferior que o efetivo, apontando para a ambiguidade existente na própria visão do terceirizado. Assim, o processo de terceirização atende ao quesito da extinção de cargos e em alguns casos supre as necessidades emergenciais das organizações, porém cria a precarização nas relações de trabalho, que alcança a diferenciação das atividades, os aspectos simbólicos dessa separação entre funcionários efetivos e terceirizados, além da clara distinção de salários e benefícios. Portanto, o processo de terceirização envolve muitos aspectos além de complementar as atividades da gestão pública. Envolve novas relações, que são desenvolvidas no âmbito dessas organizações, e, admite a necessidade de compreender como essas relações impactam no ambiente organizacional e na subjetividade dos indivíduos.


Apresentação
Última alteração
15/09/2015