Os Novos Movimentos Sociais e as políticas públicas para o ensino superior na Argentina

Laís Siqueira Ribeiro Cavalcante

Resumo


A década de 1980 foi um momento de transição na América Latina, período pós ditadura militar, é neste período que também emerge o debate acerca dos Novos Movimentos Sociais (NMS), que se diferenciavam dos antigos movimentos por serem mais propositivos e menos reivindicativos. Ao invés de produzirem grandes mobilizações, estes são mais estratégicos e sua força é a ação através da participação cidadã, da inserção da sociedade nos grandes debates buscando maior autonomia, trata-se da busca pela universalização dos direitos sociais e de uma nova compreensão acerca da função e do papel do Estado.

Os NMS estão conectados em redes, forma de organização horizontal e autônoma, que permite maior circulação de ideias, informações e de pessoas. As redes permitem uma cadeia de contatos que também determinarão as relações de poder e a influência que esses movimentos têm ao se articular. A internet é um meio digital que facilitou o diálogo e a junção de demandas heterogêneas a movimentos mais universais. A comunicação em rede é descentralizada, e como dispõe de uma gama de atores bem heterogênea, é de difícil previsão, e consequentemente, mais difícil de ser desarticulada.

Desta forma, os movimentos sociais buscam abrir um novo espaço público que não se limite a internet, uma vez que os espaços de deliberação público institucionais estão ocupados pelas elites dominantes e suas redes[1]. A articulação dos movimentos sociais em rede abre espaço para uma democracia pluralista e que segundo Scherer-Warren[2], na medida em que os movimentos sociais reconhecem suas semelhanças e respeitam suas diferenças somam às suas lutas. Sem a utilização da internet, seria quase impossível articular tão rapidamente a presença de diversos atores para lutar por uma causa, pode-se então afirmar que a utilização dessas ferramentas de comunicação facilita a ação coletiva.

Na América Latina, de modo geral, são poucos os trabalhos desenvolvidos que abordam as relações entre movimentos sociais e educação, o que dificulta a análise comparativa entre as realidades desses países. No entanto, já é possível notar a abertura de novos mecanismos para a atuação em conjunto dos movimentos sociais e da sociedade civil no debate da educação, e também novos espaços de discussão.

Os Novos Movimentos Sociais por estarem organizados em redes conseguem expandir a discussão para o âmbito internacional, dentro das universidades também há um processo de maior inserção de lideranças políticas, e de militantes, pois estes querem se especializar para poder dispor do conhecimento técnico necessário quando estiverem em uma mesa de negociação, e dessa maneira poder defender suas lutas em conjunto com a sociedade.

O sistema universitário na Argentina esteve sempre muito atrelado ao desenvolvimento econômico do país, uma vez que a verba destinada a educação é calculada por uma porcentagem do PIB, podendo esta ser variável. Devido às inúmeras crises econômicas e à problemas financeiros pelos quais o país passou o acesso às universidades acabou ficando restrito, uma vez que os investimentos no setor foram reduzidos. Em consequência da demanda por uma educação de qualidade e por mais vagas no ensino superior argentino, diversos atores sociais se articularam em rede e passaram a pressionar o Estado, cobrando deste mais investimento e oportunidades.

Assim sendo, o presente trabalho tem como objetivo analisar de que forma os movimentos sociais têm se comportado nos últimos anos, e como estão inseridos na formulação de políticas públicas para a educação superior, no âmbito da Argentina. Primeiramente, pontuarei o debate acerca dos Novos Movimentos Sociais, suas características e formas de atuação; posteriormente, investigarei como estes se articulam em redes, e de que forma atuam em prol das políticas de educação universitária, as formas de ação coletiva. E por fim, analisar qual o possível legado deixado pelos Novos Movimentos Sociais na sociedade atual.

[1] CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

[2] SCHERER-WARREN, I. Redes de movimentos sociais na América Latina – caminhos para um política emancipatória. Scielo, Salvador: n. 54, sep./dec. 2008. 


Apresentação
Última alteração
02/09/2015